O texto abaixo explica sobre a importância de desenvolver uma disciplina de exercícios matinais, conhecidos como “Sitting”, que ajuda a desenvolver concentração, interiorização e sutilização das percepções.
Extraído do Diário de Robert Fripp, 01/10/2010.
Traduzido por Gabriel Vidal.
O Sitting Matinal
I
O “sitting” matinal (exercício matinal de concentração, realizado sentado), inicialmente e primeiramente, treina a atenção volitiva. Nossa atenção se direciona às mais minúsculas e orgânicas energias de sensações, sentimentos e pensamentos. Em um dado momento, estas minúsculas energias começam à se unir, desenvolvendo um veículo energético sutil que suporta as nobres qualidades de experiência: física, intelectual e emocional.
Existe uma série de exercícios matinais de gradativos níveis de sutilização que, após um certo tempo, começam a aumentar e substancializar nossa presença pessoal. Isto não é um fim em si mesmo, mas sim, um começo para viver uma vida mais apropriada para um ser humano, para nos ajudar a alcançar o que quer que podemos desejar para nós mesmos. A prática também nos ajuda a responder o que a vida pode pedir de nós.
O “sitting” matinal não é uma meditação: meditação é receptividade ativa. O “sitting” matinal é atividade ativa, mesmo estando fisicamente parado e externamente imóvel. O “sitting” matinal treina nos manter no lugar, quietos e em estado receptivo: neste sentido, nos prepara para a meditação.
II
Duas Perguntas:
Por que praticar o “sitting” matinal?
Ao invés disso, por que não praticar violão por meia hora?
1. Antes de pedirmos à nós mesmos para fazer algo, nós começamos pedindo à nós mesmos para não fazer nada. Quando nosso corpo está preparado para não fazer nada quando pedimos à ele, talvez ele fará algo quando o pedimos para tal: integrando e coordenando habilidades motoras especializadas enquanto toca um instrumento musical.
2. Conforme o relaxamento se desenvolve e se aprofunda, estados emocionais e memórias fixadas dentro de padrões msuculares e posturas corporais diminuem suas amarras dentro de nós. Nossa história pessoal, trancada dentro de nosso corpo, começa a nos deixar; gradativamente nós nos movemos para o aqui e agora. Gradualmente desenvolvemos um relaxado e engajado sentido de nossa presença pessoal: a vida se torna um pouco mais real.
3. Começamos a distinguir o que nós somos de quem nós somos. Por exemplo, descobrimos a distância existente entre o ruído barulhento da mente agitada, seus comentários mentais automatizados (convencionalmente chamados de pensamento), e quem está escutando-os.
4. A atenção volitiva é praticada e fortalecida. Efetivamente, para todas as preocupações práticas, a qualidade de nossa atenção descreve e define quem somos nós, e muito daquilo que aspiramos conquistar em nossas vidas.
Mas estes são comentários apresentados no início da prática. Mesmo assim, ainda como um começo, isto já é uma conquista considerável: é uma fundação para a vida. Quando estabelecida, o aprofundamento da prática é algo que não tem fim enquanto ainda podemos respirar. O exercício matinal nos leva para um sofisticado conhecimento das qualidades e distinções de nossas percepções e experiências: a vida se torna mais rica.