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A Palheta do Guitar Craft

As palhetas usadas no contexto do Guitar Craft atualmente são comercializadas por Hiroshi Iketani, do Japão. São no formato de triângulos equiláteros e adequados para a técnica de mão direita do GC.

Traduzido do site de Steve Ball: History of the Guitar Craft Plectrum, uma breve história sobre a palheta do Guitar Craft.

História da Palheta do Guitar Craft:

Primeiro, algumas anotações de Robert Fripp a respeito da palheta que usamos no Guitar Craft:

“A palheta do violão é um híbrido usado no banjo e no violão clássico espanhol que surgiu nos grupos de dança nos anos 1920s. A principal técnica de palhetada é uma combinação do banjo e do mandolin, que se desenvolveu com a palhetada alternada durante os anos 1950s. A eletrificação do violão durante os anos 1940s tirou a responsabilidade da sonoridade e do volume da palhetada. A repercussão hoje é a ausencia de uma escola padronizada ou popularmente aceita de palhetada e um desenho padrão de palheta.

A palheta Guitar Craft é uma ferramenta relativamente precisa para nossa abordagem ortodoxa de palhetada. Meu próprio professor de violão foi Don Strike, um virtuoso no banjo, mandolin e violão cujo perfil foi no estilo e técnica dos anos 1930s. Eu comecei a desenvolver esta técnica de palhetada durante 1959, e se tornou minha especialidade. A técnica continuou sendo refinada e sofisticada desde 1985, quando os cursos do Guitar Craft começaram.

Resumindo, a palheta vai com a palhetada, e a palhetada vai com a forma de tocar. Nossa forma de tocar reflete como nós vivemos nossas vidas. A palheta do Guitar Craft é precisa, e a sonoridade reflete de forma precisa a maneira como tocamos a corda. Se acertamos de forma precisa, a sonoridade é autentica. Então, se desejamos escutar a forma como vivemos nossas vidas, isto é uma palhetada confiável. Se desejamos apoiar em equipamentos, como amplificação e efeitos, uma boa técnica de palheta pode ou não ser para nós.

O formato original da palheta era de um casco de tartaruga, e não é de borracha indiana. O fabricante parou de produzir este modelo, e nos vendeu a matéria-prima restante. Nós assumimos a fabricação da palheta, principalmente, para disponibilizar aos estudantes do Guitar Craft.”

Escrito em 1988 para a revista Guitar World. Robert Fripp.

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História da Produção da Palheta do GC
por Steve Ball

1o. de Junho de 1988
Robert me deu um de suas palhetas originais no formato de casco de tartaruga (de Don Strike?) e uma amostra de uma palheta “Herdim” e me pediu para pesquisar a manufatura de algo similar.

7 a 30 de Junho
Eu mandei algumas amostras para manufaturas de borracha para aprender mais sobre o material que RF chamou de “borracha indiana”. Não há nenhuma menção de “borracha indiana” em literaturas técnicas. Eu visitei em torno de nove manufaturas de borracha e especialistas em moldes nas imediações da área de Boston.

30 de Junho
Pouca ou nenhuma resposta – ninguém nunca ouviu falar da “borracha indiana” e a maioria dos fabricantes de palhetas estão agora usando plástico.

Julho
Me deparei com o termo “ebonite” através de pesquisa sobre o termo “borracha importada da Índia”. Não havia internet ou mecanismos de buscas em 1988. Fui para a biblioteca de materiais do MIT; encontrei volumes de “ebonite” usados anteriormente para fazer bolas de boliche, canetas, pentes, jóias. Ebonite é essencialmente borracha vulcanizada – borracha com gigantescas quantidades de enxofre adicionado. Poucos países ainda usam ou fabricam isso.

15 de Julho
Fiz contato novamente com “Gunther Dick” na Alemanha que fez as originais palhetas triangulares “Herdim” , que não estavam mais disponíveis – no final dos anos 70, eles substituiram por nylon, e mudaram completamente os desenhos das palhetas. Não faziam mais triângulos equiláteros. Pedi o catálogo e amostras. Heinrich Dick disse que iria pesquisar e encontrar o nome de seu fornecedor das chapas de borracha que costumava estampar os Herdims originais.

Final de Julho
Heinrich encontrou umas poucas sobras das chapas de “ebonite” em uma fábrica no sul da Alemanha – em um armazém de seu fornecedor original. Imediatamente, fiz um pedido e me mandaram em Boston.

15 de Agosto
Recebi as chapas. .80mm de largura. As palhetas precisam ter .40mm de largura. Heinrich me chamou – encontrou mais algumas chapas. Pedi estas também. Perguntei sobre a grossura. Ele me disse que tinham que prensar para chegar na espessura adequada e fazer vários Herdims (em torno de 20 tamanhos, espessuras e formatos diferentes foram oferecidos durante muitos anos).

10 de Setembro
Chegam mais chapas. Ainda muito grossas. “Isto é o mais fino que podemos fazer”, diz o fornecedor. Então, continuo procurando por chapas mais finas nos Estados Unidos e além do mar. Prince Rubber em NY possui mais chapas. Todas muito grossas. Eu pedi-as assim mesmo.

Outubro/Novembro
Depois de um mês de pesquisa e experimento, eu encontrei uma compania de prensagem que poderia prensar as palhetas até uma grossura adequada (que é o que Gunther Dick costumava fazer). Experimentos começam – funcionam, mas consome tempo e dinheiro.

Dezembro
Produção inicia com o primeiro lote de 500 palhetas.

15 de Dezembro
500 triângulos cortados pela “Standard Tool and Die” em Belmont, MA.

15 de Dezembro
Peguei as palhetas, inspecionei e enviei ao “Centerless Grinding” [Centro de Prensagem] em Waltham, MA.

19 de Dezembro
Peguei e enviei os pedaços para a “Std Tool” para polimento (Um processo de duas semanas).

28 de Dezembro
Processo de estampa começa (estampar o logotipo no centro da palheta).

2 de Janeiro de 1989
Eu visito o Std Tool para inspecionar as primeiras amostras. Terrível. Pontas tortas, estampa irreconhecível, polimento ineficiente.

2 a 8 de Janeiro
Ajustando o processo. Fica evidente que a Std Tool não pode polir as palhetas de forma adequada. Não é a especialidade deles e eles recomendam que eu encontre uma casa especializada em polimento. Centro de Prensagem não pole. A busca começa por uma casa de polimento.

9 de Janeiro
Peço 500 palhetas para corte pela Std. Tool (para manter o processo andando, mesmo sem ter uma solução para o polimento…) Corte das palhetas deve ser entregue em 1o. de Fevereiro para prensar, voltar para estampar em 23 de Fevereiro, então… polir???

Janeiro-Fevereiro
Procurei por companias que trabalham com borracha e plástico. Que confusão. Em meados de Fevereiro, encontrei uma em New Hampshire, novamente através da biblioteca do MIT. Correspondencia por correio, finalmente concordam em fazer alguns testes em algumas palhetas. Meados de Março – funciona, mas reduz a espessura da palheta significantemente! Uma troca, infelizmente. (daí as palhetas finas Guitar Craft sem estampas que estivemos usando nos últimos 10 anos).

Março – Maio
A produção continua, 5000 palhetas são fabricadas e distribuidas em três tamanhos: Fina (.25mm), Média (.30mm) e Grossa (.35mm). Apenas 30% desses são estampadas com o logotipo para economizar $. O processo de estampa também destrói em torno de 15% das palhetas que não são ajustadas perfeitamente após o calor.

Orçamento:
$1,600 material (placas de borracha e entrega)
$3,100 artesanato (desenho do triângulo e corte)
$1,900 prensagem na espessura adequada
$1,600 estampa (cada um estampado à mão com um carimbo)
$900 polimento (três semanas ligando um polidor com pedaços de madeira macia, em várias formas de espessura)
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$9,100 Sem contar com despesas de transporte.

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Retorno de alguns usuários do primeiro lote de palhetas:
“próximo, mas não tão bom quanto o dos Herdims.”
“muito fino”
“pontas muito rígidas”
“muito caro”

Nós estávamos cobrando $1.00 por palheta no começo, em uma tentativa de compensar os custos de fabricação, mas isto era claramente um ato de serviço, não de comércio.

Esta primeira, horrível, tentativa de comércio foi abandonado antes de chegar às lojas…

Mesmo assim, estas 5000 palhetas foram vendidas entre 1993 e 1994 através de vendas realizadas diretamente pelos violonistas do Guitar Craft. Mark Perry, de Possible Productions, estava vendendo o último lote destes (além dos 600 e tantos que eu pus de lado para cursos futuros do GC). Estes também se foram. Desde então, vários “Crafties” ávidos investigaram e pesquisaram novos fabricantes de palhetas nos últimos seis anos, mas ninguém veio ainda com uma solução viável. Em algum ponto, Jan Ferguson em Los Angels veio com uma palheta de vinil como uma proposta alternativa.

Isto foi abandonado pelo fabricante, que classificou como impraticável.

Em um certo ponto, uma equipe na Costa Leste trabalhou em uma solução (também era de plástico, creio eu). Recentemente, foi abandonado também por ser caro e impraticável.

Em um certo ponto, alguém em Brasil teve uma solução. Em algum ponto, alguém em Japão também estava trabalhando nisto (Hideyo me disse que abandonou o projeto porque o fabricante queria $100,000 de adiantamento para a produção).

Cerca de dois anos atrás, eu mandei alguns símbolos urgentemente para a DGM que tinha um novo fabricante na Alemanha que, supostamente, estava trabalhando em uma nova palheta. Três meses depois, DGM me pediu para enviar uma nova cópia desses símbolos para o fabricante novamente. Aparentemente, os originais se perderam ou foram trocados. Este processo ainda pode estar em andamento, mas eu duvido.

Finalmente, agora, no início de 1999, Patrick Schuleit da Washburn Guitar Corporation, assumiu o projeto de criar palhetas triângulares baseado no Herdim original e os protótipos do GC. Fique de olho nas notícias sobre os resultados deste trabalho! Boa sorte, Patrick!

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Eu ainda mantenho uma pequena coleção pessoal dos Herdims, amostras GC, protótipos, e palhetas de competidores. Eu enviei minha última remessa de palhetas para Robert em Chile, 1997, na esperança que algo novo possa aparecer quando esta quantidade acabe.

Steve Ball, 1999

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Addendum, Janeiro de 2003

Alguns meses atrás, recebi uma carta e amostra de palheta de Sr. Michael Wegen da Holanda, e dividi as amostras com vários Crafties de Seattle. O concenso geral: bom, mas ainda não é a palheta.

A busca (passiva) por uma nova palheta GC continua.

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